terça-feira, 31 de agosto de 2021

Concurseiro: faltou confiança? - Eric Costa e Silva (*)

Antes de mais nada, essa é uma história em primeira pessoa, onde a vida privada como conteúdo midiático oferece a você, leitor, o deleite de estar próximo deste homem (por muitos incompreendido) a assinar o presente texto e de como estou acostumado a viver no corpo e na alma histórias tristes.

Peço licença para penetrar no seu silêncio de leitura, nestas linhas quero lhe contar uma de minhas histórias de concurseiro e de como perdi a segunda prova do concurso para a vaga de técnico judiciário. Foi falta de confiança?

Era manhã, dia decisivo, a segunda prova do concurso de técnico judiciário aconteceria. Pulei cedo da cama e como é de meu hábito, passei a revisar as minhas notas de orientações de estudo. Não leve a mal! Relaxar?

Não! Sou um daqueles a levar materiais referentes à prova de seleção e focar até os últimos segundos, no estudo de temas retirados de artigos científicos, dissertações, trabalhos de conclusão de curso e teses. Todos garimpados em bibliotecas digitais de universidades públicas, gratuitas e de qualidade e é claro, cada um ao meu critério, avaliado com algum nexo direto causal com as matérias cobradas no edital do concurso, onde me fazia como inscrito.

Tudo andava dentro de minhas expectativas, a maior delas era conseguir o dinheiro da passagem do transporte coletivo Araçatuba com minha mãe. Há época, a soma girava em torno de R$ 2,50 e lá estava à espera de minha mãe acordar.

O tempo foi passando, passando e quando a porta do quarto abriu, logo fui pedir os ditos R$ 2,50, deixo claro para você leitor, a senhora Maria Alice, odeia conversar depois de levantar de seu sono para a sua nova jornada de trabalho.

Para a minha surpresa, depois de pedir a vultosa soma de R$ 2,50 do coletivo. Ela, logo de início, queria saber onde eu iria. De pronto, ponderei, vou fazer a segunda prova do concurso de técnico judiciário.

Estávamos na sala e o grito ecoou com a sua negativa em prover os R$2,50 do transporte urbano, pois, entre o seu grito saltava de sua boca de lábios finos, a argumentação de que eu estava mentindo.

Como lidar com isso? Tentei argumentar, mostrar o cartão de convocação para a prova, porém, nada mudava o pensamento de Maria Alice e depois de exaltar-se devido a pena de eu estar mentindo. Ela ameaçou-me com o habitual argumento de prover a minha internação compulsória em um hospital psiquiátrico.

Restava pouco tempo para conseguir adentrar no transporte urbano Araçatuba, desta maneira, a minha tábua de salvação era pedir o dinheiro emprestado ao vizinho. Bati palmas no portão do tratorista Noel.

Expliquei para o meu vizinho (ná época era Noel) a necessidade de ir até o Centro Universitário Toledo de Araçatuba realizar a segunda prova do concurso de técnico judiciário. Ele, ao saber o horário do portão fechar, ficou preocupado e se dispôs às pressas em me levar no seu veículo.

Logo nos altos da Avenida Odorindo Perenha, a janela da caminhonete estava aberta, não sei como o meu RG voou pela janela. Ele se prontificou em pegar para mim, dizendo ser perigoso descer do carro. Perigoso?

Pensei, desci. Eis então, um jovem, me surpreendeu e me golpeou na cabeça com um pedaço de madeira. Acabei sendo levado para casa pelo meu vizinho Noel e de tanta raiva, não realizei a confecção de um boletim de ocorrência do fato decorrido. Até hoje, não sei a motivação daquele jovem.

Faltou Confiança? Sim! Faltou a confiança da minha mãe e a minha em realizar o boletim de ocorrência.

 


Eric Costa e Silva,
escritor, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras


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