terça-feira, 28 de setembro de 2021

Viver! Eis a questão - Marianice Paupitz Nucera*


Hoje amanheci primaveril. Quero sair à rua e encontrar em meu caminho flores, não só as da natureza, mas também gestos gentis, que nos dias atuais são raros. Caminho agora calmamente, em meu bairro onde nasci e ainda moro com muito orgulho.

Observo as construções antigas, algumas conservadas, respeitando a história. A casa do meu avo é uma delas, graças aos meus primos que tiveram e tem essa consciência  de como é importante a história.

Amo  meu bairro, sempre me  lembro e passo pela rua onde aconteceu meu nascimento, e me vem à mente a frase: aqui nasci e aqui morrerei, citando os nomes das ruas, onde nasci e onde vivo até hoje. Talvez estejam meus leitores pensando: “Como ela  esta saudosista”.

Não posso negar que assim estou, mas é bom ouvir uma música que nos inspira e fazer a mente recordar situações relevantes de nossa tão movimentada vida.
Sim, movimentada, porque, um dia saí de Araçatuba e fui morar em outras plagas, posso listar as cidades onde vivi, em cada uma por tempo mínimo, mas consciente, uma vez que através de concurso público tive que assumir cargo de auxiliar administrativo em outras cidades, uma vez que aqui, na minha terrinha na época não tinha vaga, e valia a pena assumir, passei por São Paulo, Atibaia, Jundiaí, Campinas, e por fim em Araçatuba, ia pedindo transferência  conforme iam surgindo as vagas.

Assumi na cidade de São Paulo em 1975, cheguei a Araçatuba  em 1982, por aí vejam vocês, conheci muitos lugares lindos ,cheios de progressos, mas,  na minha visão, Araçatuba  era meu porto seguro.

E assim o tempo  passou, casei,  tive  filhos, netos e  hoje estou aqui  vivendo esta época tão  complicada, pra sair coloquei máscara, infelizmente, necessário devido à esta pandemia que assola o mundo, nunca imaginei  como era uma pandemia, li sobre várias vezes, mas conviver com ela é muito difícil, ainda mais na idade em que me encontro. Mas apesar de tudo, estou firme no aguardo do fim da mesma, para encontrar pessoalmente amigos e parentes que tanto sinto falta.

Comecei a  escrever este texto sem saber onde iria chegar, pois, faz tempo que não me ponho à frente de um computador, uma vez que não estive muito bem de saúde. Encarei até uma UTI, mas não se assustem.  Não era Covid, e sim uma embolia pulmonar, tanto assustador quanto a  Covid,  mas graças  à própria UTI estou muito  bem, sem problema nenhum, no momento.

Quando perdemos  nossa liberdade de ir e vir, sentimos n’alma a necessidade  da convivência de outros seres humanos, desde nossas famílias aos amigos de nossa vida, do dia a dia.

Um fato relevante que  aconteceu, neste período foi  o aumento de pedinte em minha porta, me veio à mente: “Meu Deus é o desemprego total”. Alguns vieram vender rifas, uma saída para matar a fome, uma  das rifas era de um eletrodoméstico que a pessoa comprou em várias prestações, e quase no termino de pagar o carnê veio a pandemia e  consequentemente o desemprego, pessoa honesta, cumpridora de seus deveres,  teve que apelar para essa saída. Este e apenas um caso.

Em todo o Brasil , enfim no mundo, quantos não foram morar na rua por falta de perspectivas futuras, como pagar água, energia elétrica, aluguel, comida, sem  um emprego. A humanidade caminha assim, na dúvida, empurra  com a barriga, e sempre aquela frase – seja o que Deus quiser , e vamos que vamos...


Marianice Paupitz Nucera é escritora e membro da Academia Araçatubense de Letras (AAL).




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