segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O limite da resiliência - Fernanda Colli


A palavra do momento é resiliência. Talvez pelo momento pandêmico, ou pela complexidade e dinamismo de nosso “novo normal”, não sei, mas o que me deixa indignada por esses tempos é a quantidade de vezes que temos que nos fazer e refazer para sobrevivermos à intolerância, à inveja e à necessidade constante de destruição promovida por alguns. 

Voltemos à palavra. Se procurarmos no dicionário, iremos encontrar resiliência como a característica dos corpos que, após sofrerem alguma deformação ou choque, voltam à sua forma original. Para o ponto de vista pessoal, ser resiliente é a capacidade de adaptação em meio às adversidades. 

É certo que precisamos participar desse processo evolutivo constante- que é a vida- para nos tornarmos resilientes e nos adaptarmos mesmo nas adversidades, mas por esses dias me peguei pensando sobre o porquê de tanta adversidade criada?

O elástico tem sua característica de elasticidade de obedecer determinado limite do mesmo e que quando ultrapassado, o mesmo se deforma, sendo impossível retornar à forma original. Sendo assim, mesmo acreditando na necessidade de sermos mais tolerantes e mais “adaptáveis”, me questiono  por que as pessoas insistem em ser a “adversidade” das outras?

A resiliência infelizmente está sendo romantizada a ponto de que sofrer e lutar loucamente em prol de algo é bonito, um ato de coragem. Mas também há  tanta gente gostando de ver o outro se estrepando, correndo de um lado para o outro, que se esquecem de que a resiliência tem um limite e segue uma linha tênue entre o sucesso e o fracasso. 

A gente luta tanto apenas para sobreviver, ou não apenas sobreviver, mas sim existir em meio a essa selva de pedra, que não está demorando muito para a elasticidade perder as suas propriedades. Nada é cem por cento adaptável o tempo todo. Vamos parar de ferir, dificultar ou diminuir a luta do outro. No final, estamos todos no mesmo barco e seremos julgados da mesma forma pra onde quer que nossa essência vá. 

Pare de querer testar a resiliência do outro. Isso não só não lhe acrescenta como ser humano, como também “diminui” a potência de resiliência do outro. 

Ninguém precisa sofrer o tempo todo para ser um corajoso ou um vencedor; ninguém precisa ser perseguido para ter sucesso, nem muito menos precisa ser vítima de maldade para seguir; o bem para vencer não precisa dar uma surra no mal diariamente. Pode descansar, nem que for por um final de semana. 

Então você que acha que suas atitudes desencorajadoras são para criar resiliência social, é melhor rever seus conceitos, ou talvez, uma revisão breve sobre os conceitos da física. Tudo tem limite. Principalmente a resiliência. 


*Fernanda Colli é professora, agente cultural, escritora, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras.


Nenhum comentário:

Postar um comentário