Antes de mais nada, gostaria de esclarecer a você,
nobre leitor, que escrever foi uma forma de abraçá-lo. E abraço não requer
requinte, nem expertise ou qualquer especialidade acadêmica com a língua, com a
literatura ou algo do gênero; o abraço na sua simplicidade é um nó que a gente
dá para desatar outros nós. Eu não pretendo descontruir nem construir opiniões
com meus textos, mas pretendo, e de uma maneira extremamente despretensiosa
mostrar que quem lê o que eu escrevo, se identifique e talvez acabe se lendo em
meus exemplos, entenda que não está sozinho. Ouvi dizer que meus textos acabam
permanecendo na zona de conforto, e o texto de hoje é justamente para isso: não
para que eu permaneça na zona de conforto, mas que eu consiga levar todos para
uma zona de conforto. Conforto da alma. Eu dedico hoje esse conforto a você
mulher, que está a terminar de arrumar a casa e as mochilas e as malas, porque
tem que acordar amanhã bem cedo para começar um novo dia (olhei no relógio e
era uma hora da manhã). A você esposa que está a deixar tudo pronto, e quando
se vira apenas para mudar de posição no computador, observa seu digníssimo
descansando, dormindo o “sono dos justos”, olha para o outro lado vê seus
filhos e já analisa: estão com cobertas, travesseiros, pijamas, estão com
semblante tranquilo...
Corre, olha a agenda, não tem tarefa, não tem médico, o dentista é para outro dia; será que amanhã pela manhã estará frio? Deixarei uma troca de roupa para o frio e outra para o calor. Já deixo o chinelo e um tênis também. Olha o uniforme do marido, a calça o sapato, ufa está tudo certo. E viva a igualdade de gênero!
A gente ainda não consegue se posicionar sem ter que estar o tempo todo se desdobrando ou se justificando. Vão questionar suas tarefas; depois seu modo de executá-las, posteriormente se conseguir conciliar tudo, irão falar que você é superficial e não sabe viver a vida.
O fato é que mulheres que lutam para um futuro diferente para suas filhas, para as gerações futuras, muitas vezes se encontram sozinhas e completamente isoladas ou pela quantidade de afazeres ou pela quantidade de cobranças.
Qual mulher nunca andou um pouco mais depressa porque achou que estava sendo seguida? Qual nunca enfrentou o assedio sem nem ao menos poder expor o caso já sabendo que não haveria menor chance de um reconhecimento, que mulher nunca se olhou no espelho e jurou que vai ficar sem comer para emagrecer os 5 quilos que o marido criticou. Qual mãe não desejou infinitamente dormir antes da meia noite...
Quantas e quantas vezes a gente tem que se levantar e tentar, continuar, seguir, mesmo após de um não, de uma ofensa, de um descrédito. Quantas foram as vezes que você chorou no banheiro para ninguém ver?
É intrigante a forma com que somos questionadas, cobradas e na maioria (senão em todas) das vezes julgadas. Mas devemos seguir.
Sei que as reclamações e reivindicações que recebemos muitas vezes depende mais de terceiros do que de você.
O que gostaria de deixar hoje é que mesmo que pareça ou apareça algo insuportável, vai passar. E que você tenha maturidade para ser quebrada ao meio e não revidar. Seja fiel à sua essência e não abra mão do que te diferencia dos outros. Já ouvi dizer que quem tem o coração bom acaba sofrendo muito, mas é sempre bom lembrar que é o nosso coração bom que nos faz voar alto.
Não se esqueça que é você que faz caber 48horas em 24 horas de um dia. Você é especial como todas nós.
Que esse meu abraço desate alguns nós, e mesmo se não, que impeça que sejam criados.
(*) Fernanda Colli, psicopedagoga, presidenta do Conselho
Municipal de Políticas Culturais, escritora de literatura infantil, membro do
Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras (AAL).
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