Pois é, deu.
Não vou fazer como jogador de futebol, que quando vai para um time grande, vai logo
dizendo:
- Eu , desde pequenino, torci para este
grande time.
Nunca, em tempo algum da minha vida, até um
certo período, imaginei ou quis
pertencer a uma academia de letras.
Quando criança, minha preocupação era as
brincadeiras de rua, pescar e nadar no Baguaçu, nada além disso.
Já adolescente , deu na cabeça ser padre.
Uai, minha turma indo para o seminário e eu fui junto, pelas mãos do monsenhor
Vitor Mazzei.
Lá, já comecei um contato com literatura,
mas literatura latina. Cheguei até a
fazer versão e tradução de textos mais simples nas aulas do padre Fassoni.
Mas a vocação era pouca e em umas férias
fui à matinê com uma amiguinha, contaram para o monsenhor, ele me chamou e
questionou-me sobre minha vocação para o sacerdócio.
-Filho, você vai ficar um ano fora do
seminário e se tiver mesmo vocação, você volta.
Nunca mais! Sorte do Papa Francisco que se
livrou de perder a mitra para mim.
De inicio, estudar e seguiu-se a
necessidade de trabalhar.
Para estudar, como o currículo do seminário
não batia com o deste mundo de pecado, precisei fazer exames de adaptação.
Para língua e gramática portuguesa, a
professora Maria Aparecida de Godoi Baracat, novinha, recém- formada, bonitona.
Para desenho, a professora Ana Laura Cintra
e para música, José Raab. Este, que considero um dos homens mais educados e
elegantes , me passou porque se dependesse de mim.... Até hoje não leio uma
partitura.
La nave, ia.
Fiz o curso de formação de professores
primários. Até aí, nada de literatura.
Instituição Toledo de Ensino, curso de
letras.
Então os primeiros contatos. Tínhamos as
matérias de Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa, mas não me lembro de
nenhum livro que tivesse de ter lido, comentado analisado...Talvez a Marianice
Nucera, minha confreira, se lembre.
A vida ia em frente, e eu junto com ela.
Casei, eduquei meus filhos, exerci uma
profissão que eu amava, pois nunca um dia era igual ao outro, sempre novos
objetivos, novos cenários. Mordomia era o que não faltava.
Até que se deu o que nunca deveria ter dado:
aposentadoria.
Criatura, fiquei solto no espaço, sem um
ponto de contato, perdido. O meu apoio social, os colegas de trabalho,
continuaram o seus mundos e eu fui afastado deles. Cada encontro era uma
tristeza, eles falavam de coisas e eu fora delas.
Precisava dar um jeito, encontrar novos
amigos. Encontrei.
Primeiro, a turma do videoquê, os primeiros
a me socorrerem. Conheci a Elaine Alencar e juntos saíamos atrás de videoquê e
caldo de mocotó.
Depois conheci os Amigos da Seresta. Sob a
batuta do maestro Beltrão, fui aprendendo a arte e já estava adquirindo fama
internacional. A seresta, pra tristeza dos seresteiros, acabou.
Lendo a Folha da Região, fiquei sabendo que
o Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras convidava interessados
na literatura e seus caminhos para frequentarem reuniões na sede da academia.
Fui, arrastei a Elaine e estamos até hoje.
Estando lá, fui tomando conhecimento, agora
sim, de literatura. Fiquei sabendo a diferença de crônica e conto, poesia e
poema e outras “cositas”.
Comecei a escrever, a perder o medo, a
vergonha, de mostrar minha produção literária.
-Você nunca será um Nélson Rodrigues, um
Jorge Amado mas poderá ser um Zé Mirto, na literatura regional.
Hoje chego à Academia Araçatubense de
letras pelas mãos do meu padrinho Hélio Consolaro, mas são tantos a agradecer.
Todos os acadêmicos que num momento ou outro estiveram presentes. Estiveram
sempre: Tito Damaso, Lula Campezzi, Yara Carvalho, Cidinha Baracat. Nao poderia
deixar de citar Rita Lavoier e Cecília Vidigal.
Deus que pague a todos.
(*) José Hamilton Brito, escritor, membro do Grupo Experimental e acadêmico eleito da Academia Araçatubense de Letras.
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