segunda-feira, 16 de agosto de 2021

E não é que deu? José Hamilton Brito*



Pois é, deu.

Não vou fazer como jogador de futebol,  que quando vai para um time grande, vai logo dizendo:

- Eu , desde pequenino, torci para este grande time.

Nunca, em tempo algum da minha vida, até um certo período,  imaginei ou quis pertencer a uma academia de letras.

Quando criança, minha preocupação era as brincadeiras de rua, pescar e nadar no Baguaçu,  nada além disso.

Já adolescente , deu na cabeça ser padre. Uai, minha turma indo para o seminário e eu fui junto, pelas mãos do monsenhor Vitor Mazzei.

Lá, já comecei um contato com literatura, mas  literatura latina. Cheguei até a fazer versão e tradução de textos mais simples nas aulas do padre Fassoni.

Mas a vocação era pouca e em umas férias fui à matinê com uma amiguinha, contaram para o monsenhor, ele me chamou e questionou-me sobre minha vocação para o sacerdócio.

-Filho, você vai ficar um ano fora do seminário e se tiver mesmo vocação, você volta.

Nunca mais! Sorte do Papa Francisco que se livrou de perder a mitra para mim.

De inicio, estudar e seguiu-se a necessidade de trabalhar.

Para estudar, como o currículo do seminário não batia com o deste mundo de pecado, precisei fazer exames de adaptação.

Para língua e gramática portuguesa, a professora Maria Aparecida de Godoi Baracat, novinha, recém- formada, bonitona.

Para desenho, a professora Ana Laura Cintra e para música, José Raab. Este, que considero um dos homens mais educados e elegantes , me passou porque se dependesse de mim.... Até hoje não leio uma partitura.

La nave, ia.

Fiz o curso de formação de professores primários. Até aí, nada de literatura.

Instituição Toledo de Ensino,  curso de  letras.

Então os primeiros contatos. Tínhamos as matérias de Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa, mas não me lembro de nenhum livro que tivesse de ter lido, comentado analisado...Talvez a Marianice Nucera, minha confreira, se lembre.

A vida ia em frente, e eu junto com ela.

Casei, eduquei meus filhos, exerci uma profissão que eu amava, pois nunca um dia era igual ao outro, sempre novos objetivos, novos cenários. Mordomia era o que não faltava.

Até que se deu o que nunca deveria ter dado: aposentadoria.

Criatura, fiquei solto no espaço, sem um ponto de contato, perdido. O meu apoio social, os colegas de trabalho, continuaram o seus mundos e eu fui afastado deles. Cada encontro era uma tristeza, eles falavam de coisas e eu fora delas.

Precisava dar um jeito, encontrar novos amigos. Encontrei.

Primeiro, a turma do videoquê, os primeiros a me socorrerem. Conheci a Elaine Alencar e juntos saíamos atrás de videoquê e caldo de mocotó.

Depois conheci os Amigos da Seresta. Sob a batuta do maestro Beltrão, fui aprendendo a arte e já estava adquirindo fama internacional. A seresta, pra tristeza dos seresteiros, acabou.

Lendo a Folha da Região, fiquei sabendo que o Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras convidava interessados na literatura e seus caminhos para frequentarem reuniões na sede da academia.

Fui, arrastei a Elaine e estamos até hoje.

Estando lá, fui tomando conhecimento, agora sim, de literatura. Fiquei sabendo a diferença de crônica e conto, poesia e poema e outras “cositas”.

Comecei a escrever, a perder o medo, a vergonha, de mostrar minha produção literária.

-Você nunca será um Nélson Rodrigues, um Jorge Amado mas poderá ser um Zé Mirto, na literatura regional.

Hoje chego à Academia Araçatubense de letras pelas mãos do meu padrinho Hélio Consolaro, mas são tantos a agradecer. Todos os acadêmicos que num momento ou outro estiveram presentes. Estiveram sempre: Tito Damaso, Lula Campezzi, Yara Carvalho, Cidinha Baracat. Nao poderia deixar de citar Rita Lavoier e Cecília Vidigal.

Deus que pague a todos.


(*) José Hamilton Brito, escritor, membro do Grupo Experimental e acadêmico eleito da Academia Araçatubense de Letras.

 

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