segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Nas teias - Alice Silva (*)

Na última vez que fiz uma trilha, passei por um caminho um tanto escuro pela densa vegetação, e me vi de repente enroscada numa teia de aranha gigante. Os fios grudaram nas minhas roupas, mãos, cabelos, tênis.

Ainda bem que não vi a aracnídea, que devia ser bem grande pelo tamanho da teia que teceu. São fios fortes, não se quebram facilmente: resistem à chuva, sol, calor. A teia é bem elástica, o desenho que vai se formando parece perfeito! Até parece que ela tem uma régua para medir enquanto tece. E se algo a impede de prosseguir, ela espera, e perseverante, continua.

Minha reação foi puxar com os dedos os fios finíssimos, tentando me livrar logo. Os fios, ao mesmo tempo que parecem frágeis, são resistentes, garantem a aranha a provisão de alimentos de que ela necessita. Muitos insetos estavam presos nela: alguns se debatendo, agonizando, sem conseguir escapar. Olhei os insetos, e intimamente agradeci a aranha: ela estava provocando ali um equilíbrio. Aqueles insetos, sua próxima refeição, não iriam nos picar.

Quando paramos para descansar um pouco, fiquei pensando como algumas pessoas ou situações podem parecer teias de aranha: nos obrigam a parar, nos desviam de nossos objetivos, nos atrasam, nos paralisam. Entramos na teia desatentos, muitas vezes num momento de carência. O conforto do início da situação nos faz permanecer.

O dano está feito: logo nos damos conta do engodo, percebemos que já não fazemos mais o que gostamos, a vida perdeu o brilho: queremos sair da situação. Sentimo-nos frágeis, cansados, inseguros, incapazes de nos libertar. Ajuda externa é bem-vinda: se tivermos sorte ela vem, através de amigos sensíveis nos envolvendo em novos projetos, nos puxando para o alto, já que os nossos pensamentos se tornaram uma teia confusa, complicada, sendo tecida com fios invisíveis, nos derrotando. Assim como existem aranhas que não têm olhos, que vivem em cavernas, temos que ser guiados, conduzidos a novas perspectivas.

Não desprezemos a disciplina: vamos aproveitar as lições que a mãe natureza nos dá. Vamos com otimismo buscar ajuda sem receio de mostrar nossas fraquezas e limitações.

(*) Alice Silva é secretária do Grupo Experimental da   Academia Araçatubense de Letras (AAL)

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